Rocha de Sousa
ROCHA DE SOUSA
nasceu a 29 de Agosto de 1938 na cidade de Silves, antiga
capital durante o domínio árabe no Algarve. É um dos últimos
espíritos (ignorados) da cultura do século XX, um operador
multidisciplinar. A sua predisposição para a arte surgiu logo na
infância, tal como ele diz: «riscando, pelas horas de silêncio,
perturbadoras bandas desenhadas, quer quando escrevia,
numa velha remington de meu pai, histórias mais ou menos tristes,
entre postais ilustrados de palácios em ruínas», o que o levou a fazer
escolhas decisivas na sua vida, primeiro ao exercer as funções
de docente na Escola Superior de Belas?Artes de Lisboa,
e posteriormente afirmando?se como artista plástico e escritor de ficção.
Também desenvolvendo uma extensa actividade de divulgação cultural
por meio de programas audiovisuais, sobretudo na RTP, a par de acções
pedagógicas com diaporamas e vídeos. A investigação artística
específica centrou?se no cinema em Super?8 e no vídeo. Sem esquecer
o notável serviço público enquanto crítico de arte, qualidade que
mantém até hoje.
ROCHA DE SOUSA está representado em colecções nacionais e
estrangeiras, nomeadamente: FBAUL, FUNDAÇÃO CALOUSTE
GULBENKIAN (onde também foi bolseiro), MUSEU DE DE ARTE
CONTEMPORÂNEA, MUSEU DE SKOPJE e diversos museus regionais
(Abel Manta, Ovar, Estremoz, Mirandela, entre outros).
Escreveu literatura de ficção e algumas peças para
teatro, como "Amnésia" e "Jonas e a sua Estrela”, baseado numa
novela de Albert Camus.
Na literatura de ficção assinou “Os Passos Encobertos”, “A Casa”,
“A Casa Revisitada” além de “Lírica do Desassossego”,
“Narrativas da Suprema Ausência”
e “Talvez Imagens e Gente de um Inquieto Acontecer”, onde
Eurípedes traz tudo para a mesa; o inquieto envolvimento
numa verdadeira História de Família, sempre voltado para
a condição humana.
Enquanto escritor ficcionista abordou a dicotomia do Homem, a
solidão e a impossibilidade da existência — o que parece patente
no livro “A Culpa de Deus”. Aliás, no testemunho “Angola 61”,
a guerra colonial, para onde foi mobilizado, levou este artista
a explorar de forma pungente as contingências do quotidiano,
num ponto decisivo da sua escrita.
Entretanto, cortando mato aqui e além, os seus textos sobre arte,
em ensaios e livros técnicos da Universidade Aberta, continuaram
a abrir caminho na própria escrita pictórica deste pintor— e é por isso
que relevamos aqui a coesão e idêntica verdade conceptual entre os
textos de Rocha de Sousa e as suas séries na expressão plástica,
nomeadamente “As Coisas e as Palavras”, “As Personagens Ilustradas”
“As Figurações Urbanas”, “Gritos Mutilados”, “Desastres Principais”.
Longo foi este percurso, prático e conceptual, desde a iniciação individual
na Galeria Diário de Notícias e uma depois como convidado da
Galeria Judite Dacruz, onde inventou “As Figurações Urbanas”.
Diante das graves assimetrias do destino, os «Desastres Principais»
(perdas e outras amputações) são já a tragédia actual, embora
o pintor tenha conferido importância à sátira sobre a própria vanguarda,
série que se perdeu em incêndio“Arte moderna Portuguesa ou o Apocalipse Now”
Rocha de Sousa coleccionou ao longo da sua vida, nas linguagens
que praticou e conforme podemos imaginar, muitas referências no campo
pictórico, gráfico e literário, desde Fernando Pessoa a André Malraux,
mas Albert Camus foi certamente a maior de todas.
Não que seja importante, em todo o caso, classifica?lo num “top ten”,
mas antes prestar homenagem a um homem criador, singular nos meios
atento sobretudo pela mobilidade multidisciplinar.
Não vamos, então, medir as palavras: listas literárias ou picturais são,
basicamente, uma obscenidade. A Literatura e a Pintura, inquantificáveis,
aproximam-se mais do inefável e das razões interiores do ser. Rocha de Sousa
não se relaciona com tais quantidades; e por isso, em conversa, não se abate
ao não saber por onde andam os seus quadros. Fala sempre numa espécie de teorema
sobre a diferença na semelhança. E, afirmando que o pintor de arte pode habitar um
crítico de arte, escreveu essa espécie de confissão chamada
COINCIDÊNCIAS VOLUNTÁRIAS